Mostrando postagens com marcador poetas de língua portuguesa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poetas de língua portuguesa. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Consanguíneos (Adélia Prado)

Não há culpados para a dor que eu sinto.
É Ele, Deus, quem me dói pedindo amor
como se fora eu Sua mãe e O rejeitasse.
Se me ajudar um remédio a respirar melhor,
obteremos clemência, Ele e eu.
Jungidos como estamos em formidável parelha,
enquanto Ele não dorme eu não descanso.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Oração para Aviadores (Manuel Bandeira)


Santa Clara, clareai
Estes ares.
Dai-nos ventos regulares,
de feição.
Estes mares, estes ares
Clareai.


Santa Clara, dai-nos sol.
Se baixar a cerração,
Alumiai
Meus olhos na cerração.
Estes montes e horizontes
Clareai.


Santa Clara, no mau tempo
Sustentai
Nossas asas.
A salvo de árvores, casas,
E penedos, nossas asas
Governai.


Santa Clara, clareai.
Afastai
Todo risco.
Por amor de S. Francisco,
Vosso mestre, nosso pai,
Santa Clara, todo risco
Dissipai.


Santa Clara, clareai.
 

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Poesia - Carlos Drummond de Andrade

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Uma pedra é uma pedra - Ferreira Gullar

uma pedra

(diz

o filósofo, existe

em si,

não para si

como nós)

uma pedra

é uma pedra

matéria densa

sem qualquer luz

não pensa

ela é somente sua

materialidade

de cousa:

não ousa

enquanto o homem é uma

aflição

que repousa

num corpo

que ele

de certo modo

nega

pois que esse corpo morre

e se apaga

e assim

o homem tenta

livrar-se do fim

que o atormenta

e se inventa

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Estranheza do mundo - Ferreira Gullar

Olho a árvore e indago:
está aí para quê?
O mundo é sem sentido
quanto mais vasto é.
Esta pedra esta folha
este mar sem tamanho
fecham-se em si, me
repelem.
Pervago em um mundo estranho.
Mas em meio à estranheza
do mundo, descubro
uma nova beleza
com que me deslumbro:
é teu doce sorriso
é tua pele macia
são teus olhos brilhando
é essa tua alegria.
Olho a árvore e já
não pergunto "para quê"?
A estranheza do mundo
se dissipa em você.