segunda-feira, 8 de novembro de 2010

I wonder (André Deschamps)

I wandered through a dark deserted wood

Along a wide and winding path I hardly could

Perceive how weary, gloomy my heart was

Until I wrote what I felt above the moss.

I wonder if these words will ever reach

Your tender ears on the eternal beach

A sweet and soothing sound fresh from the shore

The bell that summons the flock into the door

To make up for the silent hiss of snakes

Anoint the wound that cries how hard it takes.

I wonder if these words will ever rise

To touch your heart that bleeds, and sweats and cries.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

por quê?

Por que choras

Lágrimas amargas

Que ferem a aridez

Infértil desta terra

De lágrimas esquecidas?

Por que me chamas

A me lançar neste oceano

A lançar a rede

Neste mar que não estou?

Por que moras

Onde ninguém mora

Onde ninguém quer morar

Onde hoje estou

Onde me afundei

Onde não acordei

Onde aqui estou

E amanhã não sei

domingo, 31 de outubro de 2010

inefável

No Sinai.

Um sinal:

A sarça.

As sandálias

Soltai.

Silenciai.

Oh, Deus tremendo!


Em Belém,

A bênção:

Um bebê.

Belo,

Bendito.

Beijai-o.

Oh, Deus pequeno!


No Cenáculo,

A Ceia:

O Sim.

Sabor,

Sangue.

Senti-o.

Oh, Deus alimento!


Na festa,

No fim:

O fogo.

Forte

Furacão.

Fagulhai.

Oh, Deus ardente!


André Deschamps

domingo, 11 de abril de 2010

há um muro



Há um muro –
– Não o vês? –
Em meus olhos,
Em minhas palavras,
Em meus gestos.

Eu não os entendo.
Seus bailes, seus bares,
Suas batidas sem melodia,
A escola de suas vidas.

Eles não me entendem.
Meus sonhos, meus atos,
Meus medos, minha poesia,
A história de minha vida.

Mas, como disse o Murilo,
Todos – nós e eles –
Temos uma chaga aberta.
E ninguém sabe cuidar
Da chaga aberta.

Eu sei, Jesus, – e creio –
Que tua chaga aberta
Derrubou as muralhas
Arrancou as mortalhas.
Eu sei.
Mas o que estou procurando
Eu ainda não encontrei.

André Deschamps

domingo, 4 de abril de 2010

A história de uma caverna



Era uma vez uma caverna
Uma rija ríspida rocha
Onde o silêncio, a paz eterna,
Brilhava que nem uma tocha.

Em frente à caverna, um jardim
De suaves singelos girassóis,
Ponteando um lírio e um jasmim,
Encantava a todos nós!

De todas, era a mais contente
Dos meninos o esconderijo,
Dos solitários o confidente,
Dos tristes o fiel amigo.

Mas frágil tal qual uma teia
É deste mundo a euforia.
A alegria tornou-se areia
Quando soube: sepulcro seria.

“Por que eu?” a rocha gritou.
- Quem disse que rocha não chora? –
E a caverna impura ficou
A partir daquela infeliz hora.

Os girassóis agora regados
Pelas lágrimas da solidão;
Os homens fugiam assustados
Da lápide de maldição.

Abandonada, triste, vazia
Tal qual meu ermo coração
Assim a caverna vivia
Em sua nova condição.

Escolheram um dia de festa:
Da Páscoa a preparação
Mas que poderia ser festa
Este dia de condenação?

Bem antes do pôr-do-sol
Chegou a triste procissão
Ouvia-se cada girassol
Suspirando de lamentação.

Envolto em faixas jaz o morto,
Em sangue, lágrimas, saudade
O barco atracado ao porto
No repouso da eternidade.

Algo a rocha não pôde explicar:
No dia mais triste de sua vida,
Começou a experimentar
Uma alegria incontida.

Aquele ser desfigurado
Brilhava que nem uma lanterna
O seu corpo ensanguentado
Iluminava a caverna.

Só ela – oh, só ela contemplou
O que no breu se operou
Só ela – oh, só ela vislumbrou
Como o corpo se transfigurou.

Seus olhos então despertaram
E a caverna sua boca abriu
Só os girassóis escutaram
Naquela madrugada de abril.

Seu corpo não está mais aqui
Mais uma vez a rocha vazia
As faixas e os panos ali
Testemunhas daquele dia.

Inclinada com devoção
A rocha reveste-se do manto
Em um momento de adoração
Enxuga com o pano seu pranto.

Hoje a caverna bendiz o dia
Mais infeliz de sua vida
A tristeza virou alegria
A morte não venceu a vida.

Amolecem os corações
Diante desta rocha fria
Testemunha de transformações
De quem nela entra e espia.

Era uma vez uma caverna
Alegre como uma criança
Tornou-se então memória eterna
De quem não engana a esperança.

Sua alegria é estar vazia
Para preencher o coração
De quem ainda não acredita
Na força da ressurreição.

terça-feira, 30 de março de 2010

Amo os poemas curtos

Amo os poemas curtos
Que me arrebatam
Com seus versos vorazes velozes
E suas rimas incertas abruptas ferozes.

Longos como o canto das cigarras
São os dias de verão
Alardeando amores eternos
Que em março se esvairão.

Amo os poemas curtos
Concebidos no silêncio noturno
Embebidos em surtos
De inspiração.

André Deschamps

sábado, 27 de março de 2010

haikai 5

seguro o segundo,
meu mundo, minha palavra
de amor ao Criador.

domingo, 21 de março de 2010

haikai 4


amanheceu no
sumaré. Ao céu apontam
as torres, com fé.

haikai 3

cantam bem-te-vis
em árvores, postes, muros,
na minha janela

André Deschamps

haikai 2

as folhas nubladas
verde-amareladas caem
com sono: outono.

André Deschamps

domingo, 14 de março de 2010

haikai - para o dia nacional da poesia

a noite é chuvosa
calor, em prosa, o dia
volto à poesia!